Um humorista francês despertou a fúria da comunidade LGBT por fazer uma paródia com um hino cristão dizendo que Jesus é um “viado”. A emissora que levou o stand up ao ar pediu desculpas à militância, mas não se retratou com cristãos do país.
A emissora de rádio France Inter emitiu uma nota desculpando-se com a militância LGBT pelo uso de termos chulos por parte do comediante Fréderic Fromet para se referir à homossexualidade que ele atribuiu a Jesus Cristo.
O programa de rádio, transmitido também pelo YouTube, abre espaço para Fromet apresentar suas paródias, que no dia 10 de janeiro teve como base a música Jesus Está Voltando, que foi tema de um filme francês de comédia de 1988 chamado La Vie est un Long Fleuve Tranquille (“A Vida É um Longo Rio Tranquilo”, em tradução livre).
A letra da paródia dizia “Jesus, Jesus, Jesus é um viado, não vejo por que isso te incomodaria […] Jesus, Jesus, Jesus é viado, LGBT, do alto da cruz porque o pregaste, porque não o f******”, informa o portal francês Le Parisien.
Enquanto Fromet cantava, os apresentadores do programa não continham suas risadas. No canal da emissora no YouTube, a descrição do vídeo faz menção à polêmica com o Porta dos Fundos: “Um juiz brasileiro proibiu A Primeira Tentação de Cristo, uma ficção em que Jesus parece ter um relacionamento homossexual. Felizmente na França, os católicos são muito mais abertos!”, tripudia o programa.
Assim que a transmissão repercutiu nas redes sociais, um grupo de ativistas LGBT fez uma denúncia contra o programa de rádio. O presidente do Comitê Idaho France, Alexandre Marcel, declarou que havia denunciado o humorista e a emissora de rádio à Promotoria de Paris por homofobia.
“Se Jesus, Maomé ou Buda são homossexuais, trans, bissexuais ou queer, não nos incomoda; mas calúnias homofóbicas serem usadas para falar sobre suas orientações sexuais nos incomoda e nos choca”, disse Marcel.
Diante do rebuliço, o humorista Frédéric Fromet pediu desculpas à comunidade LGBT pela paródia: “Fui tão incompreendido que até me deparei com uma associação LGBT. Então a culpa é minha. Eu admito prontamente. Peço desculpas às pessoas que machuquei, enquanto reivindico o meu direito de cometer erros em um exercício que permanece muito perigoso”, afirmou.
A menção ao alto risco de fazer humor na França se deve, dentre outros fatos, ao episódio em que extremistas muçulmanos invadiram a sede da revista Charlie Hebdo em janeiro de 2015, matando jornalistas e chargistas a tiros, num atentado que reagiu à insistência do veículo em publicar edições com sátiras que eram consideradas ofensivas pelos islâmicos.
A prontidão da emissora e do humorista em se desculparem com a militância LGBT não passou despercebida de um político conservador francês. Robert Menard, prefeito de Beziers, apontou a covardia de Fromet, que teria escolhido Jesus para sua piada porque não teria coragem de insultar grupos religiosos que reagem com violência a esse tipo de provocação.
“Os ‘rebeldes’ do nosso tempo: covardes, submissos, sem talento”, escreveu Menard no Twitter. Segundo o político, Fromet atacou a fé cristã porque não gostaria de enfrentar o “disparo de um [fuzil] Kalashnikov”, finalizou.
Les “rebelles” de notre époque : pleutres, soumis, sans talent. Et puis, à taper comme un sourd sur la religion catholique, on ne risque pas la rafale de kalashnikov ou l’égorgement… #Franceinter #Jesus https://t.co/pBsKjAPJnl
— Robert Ménard (@RobertMenardFR) January 13, 2020