A oposição feita por Marisa Lobo à ideologia de gênero e à tese que a inspira, chamada Teoria Queer, motivou um ativista LGBT a processá-la. O professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Leandro Colling, coordenador do grupo de estudos Cultura e Sexualidade (CUS), acionou a Justiça acusando a palestrante de “ofender sua honra” e “demonizá-lo”.
A motivação para o processo, segundo os autos, surgiu da citação por parte de Marisa Lobo ao professor durante uma palestra em que ela o cita como um dos principais defensores da Teoria Queer no Brasil.
Em pesquisa rápida feita no Google é possível encontrar o nome do professor Leandro Colling associado ao tema, em artigos e até um dossiê sobre sua admiração a Judith Butler, uma das principais defensoras da ideologia de gênero internacionalmente.
No processo, Colling acusa Marisa Lobo de colocá-lo “como inimigo de tudo o que é bom e justo” na palestra, o que teria causado prejuízo à sua moral em “esfera objetiva e subjetiva”.
“Não se podem negar os efeitos íntimos e intrínsecos à psique do demandante com tais ataques, especialmente quando descobre que ele é utilizado em todas as palestras da demandada Brasil afora, personificando tudo aquilo que deve ser combatido nessa guerra em que ela e outros como ela deflagraram”, argumentam os advogados nos autos.
O professor, por meio de seus advogados, alega que sua imagem sai arranhada após as declarações de Marisa Lobo, que teria feito associação dele com “temas e pautas das mais diversas pelas quais nunca militou e sobre as quais nunca escreveu”.
Em declaração feita ao Gospel+, Marisa Lobo alega que está sendo vítima de uma “tentativa de mordaça”, pois sua citação a Leandro Colling acontece a partir de seus artigos publicados na internet e acessíveis a qualquer um que pesquisar. Citações ao professor, por exemplo, foram feitas pelo jornalista Reinaldo Azevedo, à época colunista do site da Revista Veja.
Reinaldo Azevedo
O jornalista e apresentador do programa O É da Coisa, na rádio Band News FM, além de colunista do jornal Folha de S. Paulo e comentarista da RedeTV!, já escreveu sobre Leandro Colling, criticando-o por suas ideias, em tom semelhante ao usado por Marisa Lobo durante a palestra.
No vídeo que motivou o processo, Marisa Lobo cita as críticas feitas por Azevedo contra o professor universitário, mas Leandro Colling omite nos autos do processo as citações da palestrante ao jornalista.
“A Folha de hoje traz um artigo espantoso, escrito por um certo ‘Leandro Colling’, identificado como ‘professor da Universidade Federal da Bahia, presidente da Associação Brasileira de Estudos da Homocultura e membro do Conselho Nacional LGBT’. Será professor de quê? Leandro deixa claro o seu propósito: ele não quer apenas a afirmação das ‘identidades’ sexuais ‘LGBTTs’, WXYZ, XPTO… Nada disso! Ele também quer ‘problematizar’ as demais identidades, compreenderam?”, questiona Azevedo, em tom crítico aos escritos do ativista.
Reinaldo Azevedo, católico, é conhecido por suas críticas contundentes, e amplia a denúncia da estratégia de Leandro Colling para justificar a defesa de sua militância: “Em particular, seu texto deixa claro, ele quer ‘problematizar a heterossexualidade’ para discutir a ‘heteronormatividade’. Ele acha que os heterossexuais vivem na ‘zona de conforto’. Certo! Leandro é do tipo que acredita que ninguém pode estar em paz com a sua sexualidade, especialmente se for hétero… Santo Deus!”, pontuou o jornalista.
“Estupidez”
No artigo publicado na Veja, Azevedo afirma que Colling, “numa manifestação de rara estupidez”, argumenta de forma equivocada na defesa de seus ideais, “contrariado a história, a psicanálise, a psicologia, a biologia, a sociologia, a Lei da Evolução…”.
Azevedo reproduz, em seu artigo, o trecho da produção de Colling que o espantou: “Ela [heterossexualidade] é a única orientação que todos devem ter. E nós não temos possibilidade de escolha, pois a heterossexualidade é compulsória. Desde o momento da identificação do sexo do feto, ainda na barriga da mãe, todas as normas sexuais e de gêneros passam a operar sobre o futuro bebê. Ao menor sinal de que a criança não segue as normas, os responsáveis por vigiar os padrões que construímos historicamente, em especial a partir do final do século 18, agem com violência verbal e/ou física. A violência homofóbica sofrida por LGBTTTs é a prova de que a heterossexualidade não é algo normal e/ou natural. Se assim o fosse, todos seríamos heterossexuais. Mas, como a vida nos mostra, nem todos seguem as normas”, escreveu o professor, em trecho reproduzido pelo jornalista.
“Num raciocínio de rara delinquência intelectual, ele conclui que, se a heterossexualidade fosse normal e/ou natural, não haveria homossexuais… E ele é professor universitário!”, protesta Reinaldo Azevedo.
Danos Morais
Colling pede reparação por danos morais contra Marisa Lobo, alegando que sua palestra – ministrada em 2011 para uma plateia cristã – pode afetar sua imagem de profissional e prejudicar suas relações “estabelecidas em função da integridade e do respeito que sempre manifestou em relação à diversidade de pensamentos”.
O pedido de indenização feito pelo professor contra Marisa Lobo é de 40 salários mínimos. No processo, os advogados de Colling também solicitam a remoção do vídeo do YouTube, assim como a proibição “do uso do nome e da imagem do autor pela ré em suas palestras”.
“Ele quer me amordaçar. Quer trazer o pensamento dele para o Brasil inteiro. Quer que se promova [a ideologia de gênero] e que ninguém questione, que ninguém o contradiga. É um ativismo político-ideológico”, resumiu Marisa Lobo.
Confira, no vídeo abaixo, a íntegra da palestra de Marisa Lobo sobre ideologia de gênero que virou alvo de processo: