Uma ex-muçulmana que se converteu ao Evangelho e se tornou ativista dos Direitos Humanos no Irã foi condenada a três meses de prisão e tortura através de dez chicotadas.
A jovem, que chegou a ser expulsa da faculdade que frequentava, entrou no radar do regime teocrático após protestar contra o governo por conta da derrubada de um avião de passageiros ucraniano em janeiro.
Mary Mohammadi, 21 anos, usou as mídias sociais na terça-feira para fornecer uma atualização de seu caso: “Depois de sofrer muitos tipos de tortura e 46 dias de prisão nas terríveis condições da detenção de Vozara e da prisão [feminina] de Qarchak, fui condenada a 3 meses e 1 dia de prisão e 10 chicotadas”, escreveu ela em sua conta no Instagram.
Presa em janeiro, ela já havia cumprido mais de um mês de prisão antes de ser libertada sob fiança em fevereiro e acusada de “perturbar a ordem pública participando de uma manifestação ilegal”.
Em sua publicação no Instagram, Mohammadi disse que foi condenada por ter protestado “contra o massacre de seres humanos” e por ter demonstrado “simpatia pelas famílias daqueles que morreram no acidente aéreo na Ucrânia”, rebatendo as acusações das autoridades iranianas.
Mary Mohammadi acrescentou que sua sentença foi suspensa por um ano, dependendo de sua conduta. No entanto, ela afirma que nunca houve nenhuma evidência contra ela que justificasse sua condenação:
“Eu deveria ter sido absolvida, mas, em vez disso, fui condenada não apenas à prisão, mas também açoitamento. E, é claro, mesmo antes de o veredicto ser proferido, fui obrigada a suportar todo tipo de tortura, nenhuma das quais é sancionada por lei e deve ser considerada um crime em si mesma”.
Segundo informações do portal The Christian Post, a jovem cristã explicou que ela e sua defesa se abstiveram de recorrer do veredito porque “os tribunais de apelação se tornaram tribunais afirmativos”, e o esforço seria desperdício de tempo.
“Tenho orgulho de assistir e simpatizar com os seres humanos no ambiente real e severo das ruas, essa é minha convicção e seus custos”, garantiu a jovem.
Repressão no Irã
Segundo a entidade International Christian Concern (ICC), grupo de vigilância de perseguições sediado nos Estados Unidos, o regime iraniano tentou reprimir todas as críticas de suas ações depois que a Guarda Revolucionária Islâmica lançou dois mísseis no avião de passageiros, matando todos a bordo.
Após sua prisão em janeiro, Mary Mohammadi foi dada como “desaparecida” por quase um mês antes de ser descoberta na prisão de Qarchak, uma unidade que tem fama de cometer “vários tipos de abuso de gênero”, e ela relata ter sido espancada e sofrido vários tipos de maus-tratos na prisão.
O ICC observa que um juiz questionou Mohammadi durante sua audiência em 17 de abril sobre sua conversão ao cristianismo, embora as acusações que ela enfrentou não tenham relação com sua fé. Fazia dois anos que o Irã não condenava publicamente um cristão ao açoitamento, aponta a entidade.
“A sentença de Mary Mohammadi é alarmante, mas infelizmente não é surpreendente”, disse a gerente regional da ICC, Claire Evans. “O governo do Irã não quer ativismo pelos Direitos Humanos, e eles não querem que os cristãos exerçam sua voz publicamente. Mary Mohammadi é um exemplo de coragem e bravura para todos nós. Devemos continuar pedindo ao Irã que respeite os Direitos Humanos e permita que seus cidadãos expressem suas convicções de consciência”, acrescentou, em nota.
Mary Mohammadi – que foi batizada como Fatemeh Mohammad ao nascer, mas preferiu mudar de nome após se tornar cristã – já havia sido presa anteriormente, quando passou mais de seis meses na ala feminina da prisão de Evin depois de ser presa em 2017 durante uma invasão em um culto de uma igreja doméstica que se reunia em um porão.
A Missão Portas Abertas classificou o Irã como o nono pior país do mundo no que se refere à perseguição religiosa contra cristãos. Como a sociedade iraniana é governada pela lei islâmica, os cristãos convertidos enfrentam severa perseguição por parte do governo, além de serem proibidos de compartilharem sua fé com os não-cristãos.
Os convertidos cristãos que frequentam igrejas domésticas em porões correm o risco de serem presos e torturados e muitos convertidos são forçados a manter sua fé em segredo. Apesar da perseguição, a chamada “igreja subterrânea” no Irã continua a crescer, com a Missão Portas Abertas estimando que existam mais de 800 mil cristãos no país dominado pelos xiitas.
O Irã há anos é rotulado pelo Departamento de Estado dos EUA como um “país de particular preocupação” por se envolver em violentos abusos de liberdade religiosa, além de se colocar como inimigo dos próprios Estados Unidos e também de Israel.