A guerra civil na Síria colocou os cristãos do país em uma situação de vulnerabilidade, pois o regime ditatorial apontado como sanguinário que governa o país protegia a liberdade religiosa dos cristãos. Até o surgimento da Primavera Árabe, a Síria era apontada como um dos locais mais seguros para cristãos no Oriente Médio.
Agora, com a ascensão do Estado Islâmico, conhecido por seu radicalismo, os cristãos que antes tinham proteção, agora são caçados, como bem explicou o jornalista Gustavo Chacra em sua coluna no site do jornal O Estado de S. Paulo.
“Na Guerra da Síria, por exemplo, todos os lados, sem exceção, são ruins. Mas o fato é que os cristãos sírios, em sua maioria, se sentem protegidos pelo regime de Bashar al Assad, pelo Irã, pelo Hezbollah e, acima de tudo, pela Rússia. Não que eles gostem do líder sírio, do regime de Teerã e do grupo xiita libanês. Alguns gostam, outros, não. Mas se sentem protegidos por eles diante da ameaça de grupos rebeldes opositores ultra radicais islâmicos, seguindo a ideologia wahabbita do islamismo sunita. Sabem também que, entre os grupos armados da oposição, todos são extremistas, não apenas o […] Estado Islâmico”, escreveu Chacra.
Analisando a entrada da Rússia de forma mais incisiva no cenário de combate ao Estado Islâmico, o jornalista aponta que o país presidido por Vladimir Putin “entende melhor o cenário na Síria” do que os Estados Unidos, por exemplo, e termina por ser o principal protetor dos cristãos no país.
“[A Rússia] entrou no conflito por uma série de motivos […] entre eles, para defender os cristãos. É importante notar que a maior parte dos cristãos sírios são ortodoxos, com minorias melquitas, maronitas e assírias. Estes cristãos não se identificam com os evangélicos do Ocidente. Mas se identificam e muito com a Rússia, maior nação cristã ortodoxa do mundo”, explicou Chacra.
De acordo com o jornalista, a ação militar russa na Síria conta, inclusive, com apoio da liderança cristã do país: “O Patriarca Russo defendeu a intervenção de Putin na Síria dizendo que isso é fundamental para defender os cristãos. Ao longo do conflito, o maior líder cristão da Rússia também declarou uma série de vezes apoio ao regime de Bashar al Assad por proteger os cristãos. Outros patriarcas cristãos do mundo árabe realizaram reunião ecumênica recentemente em Damasco para apoiar o líder sírio – Damasco é sede de quatro patriarcados cristãos”, contextualizou.
Ao final de seu artigo, Gustavo Chacra destaca a complexidade do cenário no Oriente Médio e a dificuldade dos políticos ocidentais em compreender esse quadro, lembrando que os valores morais adotados nessa região do mundo nem sempre são aplicáveis àquela área: “Ao longo destes meus anos cobrindo o conflito, sempre fiquei surpreso como muitas vezes o Ocidente não entende o cristianismo oriental […] Os russos, por incrível que pareça, são os que melhor leem a situação dos cristãos. Nos EUA e mesmo no Brasil, infelizmente, pessoas que talvez sejam bem intencionadas entendem completamente errado a situação dos cristãos”, resumiu.