Ana Paula Valadão virou alvo de ataques nas redes sociais por afirmar que a homossexualidade “não é normal” a partir da perspectiva bíblica e que a comunidade LGBT seria o epicentro da disseminação da AIDS, o que condiz com constatações feitas em pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde em 2018.
A cantora e pastora afirmou, durante o programa Diante do Trono, veiculado pela Rede Super, que a homossexualidade “não é normal” e que o resultado das práticas pecaminosas é a morte, no sentido espiritual, como diz a Bíblia Sagrada.
“Isso não é normal. Deus criou o homem e a mulher e é assim que nós cremos. A qualquer outra opção sexual é uma escolha do livre-arbítrio do ser humano. E qualquer escolha leva a consequências”, disse a pastora. “A Bíblia chama de qualquer opção contrária ao que Deus determinou, de pecado. E o pecado tem uma consequência que é a morte. Taí a AIDS para mostrar que a união sexual entre dois homens causa uma enfermidade que leva à morte e contamina as mulheres, enfim… Não é o ideal de Deus”, acrescentou.
A repercussão da declaração de Ana Paula Valadão motivou a Aliança Nacional LGBTI+ a se posicionar em nota, anunciando que processará a pastora evangélica por crime de LGBTfobia: “O discurso de Ana Paula beira ao absurdo, extrapolando a liberdade religiosa e de expressão, tornando-se um discurso odioso, fanático e amplamente desproposital, com consequências potencialmente desastrosas, principalmente para quem a segue”, diz o texto, conforme informações do portal Uol.
“Nos encontraremos nas barras da lei – a lei dos homens e das mulheres. Não se deve acreditar em um Deus como este pregado pela apresentadora, que espalha preconceitos, estigmas e ódio! Se a sua exegese e hermenêutica são essas, as nossas são os artigos 3º e 5º de Constituição Federal cidadã de 1988”, acrescenta a Aliança Nacional LGBTI+.
O bispo Hermes C. Fernandes criticou Ana Paula Valadão comparando sua declaração ao racismo: “200 anos atrás: não é normal que negros sejam tratados como seres humanos. Normal é que trabalhem até morrer e sejam submetidos a todo tipo de violência e humilhação. […] O mesmo espírito de preconceito agindo ao longo de gerações para tornar a vida um fardo insuportável”, disse o líder “cristão progressista”, conforme informações do portal Diário do Centro do Mundo.
Dados
As críticas à declaração de Ana Paula Valadão têm trazido como pano de fundo números do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em dezembro de 2019, como argumento contra a percepção da pastora de que há mais homossexuais com HIV do que heterossexuais.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 248.520 novos casos de pacientes com HIV entre 2007 e 2019. Destes pacientes, 143.506 se declararam heterossexuais (58%), e 105.014 (42%) homossexuais. Entretanto, os dados do boletim epidemiológico consideram apenas números absolutos, e não fazem a correlação com a proporção da população.
Segundo informações do jornal Gazeta do Povo, a pesquisa “HIV Prevalence among men who have sex with men in Brazil”, assinada por 26 pesquisadores e publicada pelo Ministério da Saúde em 2018, trouxe dados que atualizaram um estudo anterior, de 2009, mostrando que entre homens que fazem sexo com outros homens, 18,4% são portadores do vírus HIV.
O mesmo estudo indicou que essa taxa de infecção entre a população em geral é de apenas 0,4%, o que torna a presença do HIV muito maior proporcionalmente entre os homossexuais. “Apesar de a evidência global indicar uma redução de casos de Aids em muitos países, a epidemia do vírus entre homens que fazem sexo com homens parece estar aumentando, em países de renda baixa, média e alta”, diz o relatório.
Ana Paula Valadão atribui aos gays a disseminação da AIDS e diz que casais heterossexuais são “imunes”, contrariando a ciência e o senso comum. Fé religiosa não é salvo conduto para ser homofóbica, sorofóbica e cometer crimes contra a saúde pública. Precisa ser responsabilizada! pic.twitter.com/tCFdKswoCX
— William De Lucca (@delucca) September 12, 2020