As tentativas de atribuir a raiz da homofobia do terrorista muçulmano de Orlando ao cristianismo vêm ganhando cada vez mais ares de cruzada. Especialistas em comportamento social e orientação sexual, novamente, citam a fé cristã e sua convicção de que a prática homossexual é pecado como exemplo primário de disseminação de ódio.
O caso mais recente foi o do pesquisador Ilan Meyer (foto), que se dedica a temas ligados à orientação sexual e políticas públicas relacionadas a isso, com estudos na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
“Você pode aprender coisas terríveis ao ir à igreja toda semana”, disse Meyer, em entrevista à BBC. Segundo ele, mesmo que a religião não seja homofóbica, é possível que a abordagem dos líderes religiosos torne a pessoa alguém intolerante com homossexuais.
As notícias em torno do massacre de Orlando são claras: Omar Mateen era um muçulmano que, em seus últimos momentos de vida jurou lealdade ao grupo extremista Estado Islâmico, logo após ter matado 49 pessoas e ferido outras dezenas. Momentos depois, tirou a própria vida. Relatos de testemunhas e pessoas que foram próximas a ele dão indícios de que ele mesmo poderia ser um homossexual não assumido, pois mantinha perfis em aplicativos dedicados à paquera entre homossexuais, e era frequentador da boate que ele mesmo atacou.
Genevieve Weber, especialista em aconselhamento de pessoas afetadas por homofobia internalizada e professora da Universidade Hofstra, em Nova York, afirma que esse pode ser um caso de homofobia internalizada. “Apesar de não ser comum, não é inédito que uma pessoa seja violenta com gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (LGBT) por causa de um dilema interno próprio”, afirmou.
Mas o pesquisador Ilan Meyer argumenta que as mensagens de reprovação a respeito da homossexualidade podem vir de diversas áreas da sociedade: “Infelizmente, é um conceito bastante simples. Todos aprendemos quais são as convenções sociais. Aprendemos sobre o estigma e o preconceito direcionado a certos grupos desde muito cedo. Então, quando uma pessoa começa a se reconhecer como gay ou lésbica, essa negatividade já está presente”.
Na cruzada midiática para atribuir culpa aos cristãos por um crime cometido por um muçulmano e provável homossexual não assumido se fez presente no comentário feito por Meyer à emissora britânica: “Muitas religiões não são homofóbicas. Mas, em alguns casos, se você é uma pessoa religiosa e ouve mensagens negativas repetidamente de pessoas que são renomadas em sua comunidade, pode ser uma lição muito dolorosa. Isso certamente ocorre na comunidade cristã evangélica dos Estados Unidos, por exemplo, onde você pode aprender coisas terríveis ao ir à igreja toda semana”, acusou.
A forma como a mídia vem distorcendo o caso até o ponto de sempre chegarem aos cristãos como fonte de ódio a homossexuais tem sido abordada por diversos líderes evangélicos, no Brasil e no mundo.
O escritor David French publicou um artigo nos Estados Unidos denunciando o uso dessa tragédia como forma de iniciar uma guerra contra as convicções cristãs naquele país.
Aqui no Brasil, o pastor Silas Malafaia também destacou que parte da mídia vem agindo de forma a denegrir a comunidade evangélica, que tanto se opõe aos temas mais polêmicos do mundo pós-moderno, como aborto, casamento gay e legalização das drogas.