As críticas sofridas pela pastora Damares Alves por conta de sua pregação em que identifica uma mensagem sobre a sexualidade da personagem Elsa, de Frozen, ao que parecem, não são baseadas em fatos.
A própria empresa alimentou expectativas de que a princesa seja lésbica, e os próprios ativistas LGBT fizeram campanha sobre isso nas redes sociais ao longo dos últimos anos.
Em agosto de 2018, os rumores sobre Elsa ser homossexual se tornaram assunto da mídia nacional e internacional. “O jornalista Mario-Francisco Robles diz ter ouvido de fontes confiáveis que o boato se concretizaria. Caso se confirme, Elsa será a primeira princesa gay da Disney. Desde o sucesso de Frozen em 2013, surgiram diversas especulações a respeito da sexualidade da personagem”, noticiou o portal Correio Brasiliense no ano passado.
Damares Alves disse, numa pregação resgatada pela imprensa recentemente, que os pais cristãos (o evento reunia católicos, mas os valores são compartilhados também por evangélicos) deveriam se atentar com a mensagem que a Disney estava preparando para transmitir na sequência do longa-metragem de amplo sucesso.
“É muito bonito, eu assisti. Até cantei a música. ‘Livre estou, livre estou’… Porque ela termina sozinha no castelo […] de gelo? Porque ela é lésbica. Nada é por acaso, acredite. Eles estão armados, articulados. O cão é muito bem articulado e nós estamos alienados. Aí, agora, a princesa do Frozen vai voltar para acordar a bela adormecida com um beijo gay”, diz Damares no trecho da pregação que se tornou viral.
Uma das reações mais virulentas contra a fala de Damares partiu de Xuxa, a apresentadora de TV que construiu carreira voltada ao público infantil, insinuando até censura para evitar observações e alertas como o feito pela pastora. “Como permitem certas coisas (se me calasse estaria permitindo tb)? Já vi pessoas interpretarem Bíblia, poesias, quadros de diversas formas… mas desenho animado?”, criticou a chamada “rainha dos baixinhos”.
Frozen x LGBT
Os comentários nas redes sociais que tacham a atual ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos como alguém delirante, conspiratória ou preconceituosa, no entanto, ignoram que as suspeitas de Damares Alves encontram fundo na realidade.
A codiretora e roteirista do filme, Jennifer Lee, afirmou em fevereiro de 2018 que estudava com atenção todos os pedidos do público LGBT sobre a personagem: “Nós tivemos toneladas de conversas sobre isso e estamos conscientes do que dizem. Elsa me diz todos os dias para onde precisa ir e ela continuará fazendo isso, vamos ver aonde isso dará […] Eu amo tudo o que as pessoas estão dizendo e pensando nosso filme e isso está criando diálogos sobre essa personagem maravilhosa que fala com tantas pessoas. Isso significa muito para nós”.
De acordo com o portal Revenge of The Fans, a Disney já teria decidido apresentar a protagonista de Frozen como homossexual, e a principal evidência seria a entrada de uma nova personagem – que será dublada pela atriz Evan Rachel Wood, que se declara bissexual – e a adição da roteirista Alison Schroeder à equipe.
Em fevereiro deste ano, quando saiu o primeiro trailer da continuação de Frozen, as redes sociais registraram uma manifestação intensa cobrando da Disney quais seriam as indicações no vídeo de que Elsa seria apresentada como lésbica.
“Este apelo para que Elsa (dublada por Idina Menzel) abrace seu lado lésbico não veio do nada. Por um lado, sua música tema, Let It Go, foi adotada como um hino [LGBT], amado em noites de karaokê e piano bar em todo o mundo. Por outro lado, tem havido uma campanha no Twitter, que remonta a 2016, quando uma jovem chamada Alexis Isabel Moncada observou quão ‘icônico’ seria se a Disney transformasse a personagem em uma princesa lésbica”, noticiou o portal Wired.
Toda a campanha se baseou na seguinte publicação feita por Alexis Isabel há aproximadamente três anos: “A indústria do entretenimento nos deu garotas que se apaixonaram por feras, ogros que se apaixonam por humanos e até por mulheres adultas que amam abelhas. Mas nunca conseguimos ver a pureza em um relacionamento estranho”, escreveu ela. Horas depois, a #GiveElsaAGirlfriend (“dê uma namorada a Elsa”, em tradução do inglês) estava entre as mais usadas no Twitter.
A jornalista especializada em entretenimento e cultura pop Angela Watercutter, do Wired, fez coro à manifestação dos fãs LGBT: “A Disney, fornecedora de entretenimento familiar há décadas, há muito tempo erra no lado conservador e, se permitir que uma de suas heroínas mais queridas abrace uma identidade queer (LGBT), a mensagem que seria enviada aos jovens espectadores e seus pais seria absolutamente histórica. O estúdio tem dançado à beira da representação LGBTQ com personagens discretamente esquisitos em Thor: Ragnarok, o primeiro [filme] Frozen, e aquele ‘momento exclusivamente gay’ em A Bela e a Fera, mas ter Elsa saindo com orgulho [do armário] seria monumental”, escreveu.
Frozen 2 tem estreia prevista para 27 de novembro de 2019 nos Estados Unidos, enquanto que nos cinemas brasileiros deverá ocorrer um atraso, com a chegada do filme apenas em 02 de janeiro de 2020.