A reeleição de Xi Jinping para um inédito terceiro mandato na China acendeu o alerta para o estrangulamento da liberdade religiosa no país. Órgãos de monitoramento da perseguição a cristãos veem risco de “consequências catastróficas”.
Depois que o Partido Comunista da China (PCCh) reelegeu Xi Jinping como líder da República Popular da China, o cenário formalizado é de apoio irrestrito às políticas do presidente, que tem estilo agressivo no combate aos opositores.
Xi Jinping garantiu seu terceiro mandato como presidente da China e secretário-geral do PCCh na semana passada, menos de cinco anos depois que o Congresso Nacional do partido aboliu o limite de dois mandatos consecutivos para presidentes. Ele ficará no poder, pelo menos, até outubro de 2027.
Essa reeleição ocorre em um momento que a China enfrenta o escrutínio internacional sobre seu tratamento de minorias religiosas e dissidentes políticos, bem como seu papel na causa da pandemia de coronavírus que causou milhões de mortes em todo o mundo.
Embora a China tenha operado como um estado de partido único completamente controlado pelo PCCh por décadas, o país expressou abertura para implementar reformas de mercado na última parte do século 20, o que levou à sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC).
O endosso do Partido Comunista da China à continuação do reinado de Xi causou preocupação entre os defensores da liberdade religiosa, que estão convencidos de que isso significa um retorno aos dias sombrios da Revolução Cultural liderada por Mao Tsé-Tung, líder responsável por dezenas de milhões de mortes durante seu governo.
Perseguição extrema
Salih Hudayar é o fundador e presidente do Movimento de Despertar Nacional do Turquistão Oriental, uma “organização internacional de direitos humanos” que propõe a independência do Turquistão Oriental, uma área que o governo da China trata como província, chamada Xinjiang.
Hudayar também atua como primeiro-ministro eleito do governo do Turquistão Oriental no Exílio, e considera que Xinjiang é um território ocupado pelo governo comunista chinês. Ele e a organização que lidera realizaram vários protestos em frente à sede do Departamento de Estado dos EUA em Washington, DC.
Nesses protestos, eles pedem que o governo dos EUA tome medidas mais fortes para proteger os uigures, um grupo étnico predominantemente muçulmano que constitui uma parcela considerável da população do Turquistão Oriental e vem sofrendo intensa perseguição, com muitos sendo levados a campos de concentração.
À medida que os relatos de abuso nos campos chegam às manchetes internacionais, os uigures também se tornaram vítimas de trabalho forçado que beneficia direta ou indiretamente as empresas americanas.
Em entrevista ao portal The Christian Post, Hudayar expressou suas preocupações: “Para os uigures e o povo do Turquistão Oriental, isso significa que o genocídio e o sofrimento de nosso povo vão se intensificar”, disse ele, acrescentando que as medidas adotadas por Xi Jinping trarão “consequências catastróficas para pessoas não chinesas como uigures, tibetanos, mongóis e outros”.
Hudayar disse que, embora o governo chinês “sempre tenha perseguido os uigures desde que ocuparam o Turquistão Oriental no final de outubro de 1949”, o tratamento que receberam piorou consideravelmente desde que o atual presidente assumiu: “Foi Xi Jinping chegar ao poder […] que os uigures começaram a realmente enfrentar o genocídio em massa”.
“Antes disso, tratava-se de nos assimilar, tentar nos assimilar para nos tornarmos chineses. Mas depois de 2014, ou nos tornamos chineses ou somos enviados para os campos. Somos doutrinados, torturados, esterilizados, estuprados e ou nos tornamos chineses ou morremos”, resumiu,
Genocida no sentido correto da palavra
Gordon Chang é um analista internacional ligado à ONG Gatestone Institute que define o atual presidente chinês como alguém dedicado a exterminar minorias étnicas e religiosas:
“Xi Jinping é um monstro genocida. Ele é o agressor mais ambicioso da história. O Partido Comunista acaba de lhe dar um poder quase ilimitado. Ele não vai parar até que seja parado. Sim, devemos nos preocupar. Xi Jinping acredita que o Partido Comunista deve ter controle absoluto sobre a sociedade e que ele deve ter controle absoluto sobre o Partido. Ele não vai parar até atingir os dois objetivos”, alertou.
De acordo com Chang, “Xi Jinping não está apenas implementando o desenvolvimento militar mais rápido desde a Segunda Guerra Mundial, ele também está mobilizando civis chineses para a batalha. Não sabemos o que ele, de fato, pretende fazer, mas ele está levando a China ao conflito. É um futuro muito sombrio”.
E os cristãos?
Bob Fu, ativista presidente e fundador da China Aid, uma “organização cristã internacional de direitos humanos sem fins lucrativos” que se dedica a oferecer ajuda a pessoas perseguidas de todas as religiões na China, disse que “o terceiro mandato de Xi, que quebrou precedentes, faz com que seu apelido seja ‘Presidente Mao Jr.’ o que é a realidade”.
“A China entra oficialmente na era ditatorial maoísta 2.0 de décadas de autoritarismo. O estilo de governo implacável de ‘Grande Luta’ de Xi com seu ambicioso domínio global substitui a agenda pós-Mao do PCCh de reforma econômica e abertura desde os anos 1980. A comunidade internacional terá que se preparar para a aceleração contínua do registro cada vez pior de abusos de direitos humanos e perseguição religiosa sob a nova Revolução Cultural de Xi”.
O ex-secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, usou o Twitter para declarar que “Xi Jinping tomar o poder total não é surpresa – ele é um ditador comunista total”, e acrescentou que a China é uma “ameaça real” que os militares dos EUA devem monitorar.
As preocupações com o tratamento da China às minorias religiosas também se estendem aos cristãos, que viram seus locais de culto invadidos ou demolidos por se recusarem a cumprir as exigências do governo chinês.
O maior símbolo da preocupação com a liberdade religiosa está no recente acordo entre o Vaticano e o governo chinês, que agora pode vetar nomes de bispos que a Igreja Católica pretenda nomear para suas dioceses.
Esse acordo ocorre meses após a prisão do cardeal chinês Joseph Zen por participar de um protesto pró-democracia em Hong Kong: “O Vaticano e Pequim chegaram a um acordo sobre a nomeação de bispos que os críticos veem como uma aquiescência ao crescente controle da religião pela China”, disse Sam Brownback, ex-embaixador dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional.
“O PCCh está em guerra com todas as religiões, buscando erradicar todas as religiões. Este acordo renovado acontece enquanto o Cardeal Zen está sendo julgado por acusações forjadas. Enfrente o PCCh, não os acomode!”, finalizou.