O bispo Samuel Ferreira, líder da AD Brás, tem novamente seu nome ligado aos escândalos de corrupção que vem sendo investigados no Brasil. A suspeita agora é que ele tenha recebido, no exterior, US$ 1 milhão em propinas da JBS.
Uma reportagem da revista Época mostrou parte das provas que os irmãos Batista e demais diretores da JBS entregarão à Procuradoria-Geral da República (PGR) como parte do acordo de delação premiada que pode derrubar, dentre outros, o presidente da República, Michel Temer (PMDB).
Nas provas obtidas pela revista há o registro, em planilha, do pagamento de propina a políticos de vários partidos ao longo de quase onze anos, entre 2006 e 2017. A matéria destaca os valores que chegaram às mãos dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (PT), e também do presidente Temer.
No entanto, um ex-ministro de Estado dos governos petistas, Antonio Palocci – preso desde setembro de 2016 e recentemente condenado pelo juiz Sérgio Moro a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro – é citado como um dos beneficiários do esquema de corrupção da JBS, e sua parte nas propinas teria sido entregue em uma conta do então pastor Samuel Ferreira.
Os registros apontam que dos valores repassados a Palocci, uma parte saía da conta da JBS e eram depositados em uma conta nos Estados Unidos, da qual Ferreira é beneficiário. Teriam sido feitos dez depósitos de US$ 100 mil. Os investigadores do esquema ainda não esclareceram a ligação entre Palocci e o bispo da AD Brás.
Além dos políticos de PT e PMDB, figuras do PSDB também são implicadas na delação da JBS. Nas campanhas de 2010 e 2014, a empresa de Joesley e Wesley Batista teria repassado aproximadamente R$ 42,2 milhões. Como prova, os delatores entregarão um recido de uma empresa chamada LRC Eventos, usada pela campanha de José Serra à presidência em 2010 como forma de legalizar a propina em forma de doação feita.
“Para ter controle sobre todos esses pagamentos, a JBS não criou um departamento de propina, como a Odebrecht. Poucos funcionários centralizavam esses repasses de dinheiro, que eram feitos de diferentes maneiras. Eles também fizeram acordo de delação premiada e deram detalhes desse esquema criado para corromper políticos”, repercutiu o Jornal Nacional, no último sábado, 29 de julho.
Lavagem de dinheiro
Samuel Ferreira está na mira da Justiça há quase um ano e meio. Em maio de 2016, o bispo tentou fazer com que as acusações de lavagem de dinheiro feitas contra ele na Operação Lava-Jato fossem julgadas em uma vara da Justiça Federal em São Paulo, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) recusou a solicitação.
Ferreira foi associado ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Além do bispo, a própria denominação que ele lidera entrou na mira da Justiça. A AD Brás é um braço da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, da qual Cunha é membro. Ele teria usado a igreja para movimentar parte dos US$ 5 milhões que recebeu em propina no negócio em que a Petrobras contratou dois navios-sonda.
“Não há dúvidas de que referidas transferências foram feitas por indicação de Cunha para pagar parte do valor da propina referente às sondas”, afirmou Janot.