Desde os atos de 8 de janeiro, quando as sedes dos Três Poderes, em Brasília, foram vandalizadas, teólogos, lideranças cristãs e populares têm debatido sobre os reais fatores que desencadearam a prisão de centenas de pessoas, entre elas jovens e idosos. Neste contexto, a teóloga Braulia Ribeiro resolveu se posicionar em resposta aos escritores Gutierres Fernandes Siqueira, Yago Martins e Pedro Dulci.
Isso porque, para Braulia, que é um dos nomes mais conhecidos no evangelicalismo nacional devido à sua atuação como missionária e pelos livros Chamado Radical e Tem Alguém Aí Em Cima?, alguns evangélicos da direita política “estão invertendo o polo moral da discussão nacional”.
Em um artigo publicado logo após o 8 de janeiro, Braulia fez uma série de questionamentos apontando que para entender àqueles acontecimentos, antes de mais nada, é preciso destrinchar os bastidores de um contexto bastante amplo, antes de fazer qualquer julgamento “apressado”.
“Que responsabilidade têm os patriotas pegos inadvertidamente no meio de protestos que se tornaram violentos, à revelia de sua vontade? E o que dizer dos protestadores profissionais que se infiltraram entre a gente do bem, encarregados de depredar, tocar fogo, pixar, apenas para emporcalhar a reputação até então impoluta dos mal falados Bolsonaristas?”, escreveu a teóloga.
Mestre em Divindade pela Universidade de Yale, Estados Unidos, e doutoranda em história e teologia política na Universidade de St. Andrews, Escócia, Braulia seguiu questionando qual seria o “lugar de Deus” no cenário dos acontecimentos nacionais.
Isto é, de qual lado o Senhor estaria, moralmente falando, não com relação ao 8 de janeiro, especificamente, mas diante de todo o contexto de luta político-ideológica entre a direita conservadora e a esquerda liberal.
Crítica a Gutierres
Com base nisso, Braulia iniciou sua crítica ao escritor Gutierres Fernandes Siqueira, citando um texto escrito por ele para a revista Christian Today, destacando que o mesmo classificou o 8 de janeiro como “o pior dia da democracia no país”.
“Ele segue daí para pior e afirma sem se preocupar em fornecer evidências de espécie alguma a não ser em artigos de sua própria lavra, que me parecem ter a mesma natureza, cheios de afirmações subjetivas e conclusões apressadas”, opina Braulia.
Em seu texto sobre o 8 de janeiro, Gutierres diz que o “extremismo que atingiu seu auge no domingo foi plantado e cultivado, em parte, por igrejas evangélicas que apoiaram e fizeram campanha para Bolsonaro nas últimas eleições, e ajudaram a aprofundar a polarização, o discurso de ódio e a radicalização.”
Braulia, então, rebateu: “O artigo só piora à partir daí, porque para o autor insultos ad hominem e afirmações carregadas de conteúdo emocional mas sem âncora em fatos fazem as vezes de argumentos lógicos.”
“Interessante que esse Sr. Siqueira, tão preocupado com a ordem democrática, não tenha falado nada sobre a prisão ilegal de mais de 1200 pessoas, sobre o confinamento sofrido por elas, sem água, sem banheiros, sem processo. Não falou nada sobre a decisão monocrática de um juiz de remover do cargo de um governador em exercício eleito por milhões de pessoas, e a de prender um secretário de segurança sem processo e sem provas”, continuou a teóloga.
“Teólogo de internet”
Sobre o pastor Yago Martins, conhecido pelo canal Dois Dedos de Teologia, Braulia Ribeiro introduziu a sua crítica afirmando que a internet está “rica em difamadores profissionais da fé fantasiados de teólogos populares”.
“O teólogo de internet Yago Martins, pinça um comentário em seu Twitter, para ele a principal treta de sua semana, tema ideal para quem vive de cliques: ‘Nos acampamentos bolsonaristas, muita gente fazia oração, evocava a Deus, compartilhava conteúdos bíblicos e, com o desmonte de alguns acampamentos, pessoas faziam orações e evocavam textos bíblicos'”, escreveu a teóloga.
Braulia colocou em xeque a crítica feita por Yago aos manifestantes que levaram bíblias, cantaram louvores e fizeram orações durante as manifestações. A teóloga apontou que os cristãos estavam apenas externando uma “fé holística e íntegra”, envolvendo um ato de cidadania, cuja essência era a indignação quanto ao cenário político e o “abuso autoritário” por parte do Judiciário.
“Sua preocupação principal é combater seu próprios pares evangélicos e pentecostais- se alçando a um papado auto-nomeado onde todas suas opiniões e doutrinas são ex-Cathedra”, disparou Braulia sobre Yago, chamando-o em seguida de “moleque”.
Pedro Dulci
Outro que também recebeu críticas de Braulia Ribeiro foi o filósofo e teólogo evangélico Pedro Dulci, classificado pela autora como alguém mais “sério”, mas que também teria feito uma leitura errada sobre o 8 de janeiro.
Isso porque, para a teóloga, Dulci deu a entender que qualquer manifestação contra um governo instituído seria uma ato “revolucionário” anticonservador e, portanto, anticristão.
“Para Dulci quem protesta contra o governo, não importa a sua natureza, é revolucionário, logo, não é conservador. Qualquer resistência à tirania é por natureza anti-conservadora. A confusão de Dulci é com o termo revolucionário, que ele entende como um termo amplo que abriga qualquer tipo de rebelião contra o status-quo ou até reação contra a tirania”, escreveu a autora.
Para a teóloga, Dulci cometeu “um pecado capital contra todos os cristãos que ao longo da história se atreveram a erguer suas vozes contra a opressão e a injustiça. Ao se manifestarem, coitados, estavam faltando com a fé, ao invés de agir em fé.”
“Ai dos mártires que morreram defendendo inocentes, contestando regimes ou líderes tirânicos e cruéis, deveriam ter ficado quietinhos, protegido sua própria vida covardemente porque isso sim seria um sinal de fé no Senhor”, conclui Braulia em seu artigo para o GospelPrime.