O caso de um treinador demitido por compartilhar sua fé com os alunos e reunir o elenco de um time de futebol americano do Ensino Médio para orar após partidas chegou à Suprema Corte dos Estados Unidos.
Joe Kennedy era treinador de futebol americano em uma Escola de Ensino Médio de Bremerton, em Washington, e criou uma tradição com seus jogadores de fazer um momento de oração com seus atletas após cada partida, independentemente de vitória ou derrota.
Ele foi demitido em 2016 após ter passado por uma suspensão, pois um membro da diretoria de ensino interpretou que o gesto religioso poderia causar problemas à instituição.
A justificativa usada por que a “expressão religiosa poderia ser considerada uma possível violação da Cláusula de Estabelecimento da Constituição dos Estados Unidos da América”, e que ele não aceitou deixar de orar.
Ao longo dos anos, o treinador Joe Kennedy vem lutando na Justiça dos EUA para estabelecer um precedente que reforce as liberdades religiosa e de expressão. O processo já passou pelo Tribunal Distrital, depois foi escalado para o Tribunal de Apelações do Nono Circuito e agora chegou ao Supremo Tribunal para revisão.
Inicialmente, em 2019, a Suprema Corte se recusou a ouvir o caso, porque o Tribunal de Apelações do Nono Circuito havia rejeitado seu recurso. Porém, na ocasião, os quatro juízes da Suprema Corte que recusaram estudar o caso enfatizaram que a decisão não era definitiva.
A secretaria de ensino do condado de Bremerton vem sendo representada por uma entidade chamada Americanos Unidos pela Separação entre Igreja e Estado, cujo nome sugere ser formada por militantes ateístas.
A presidente da entidade, Rachel Laser, afirmou que “nenhuma criança que frequenta a escola pública deve orar para praticar esportes escolares”, e acrescentou que “nenhum aluno deve se sentir excluído – seja na sala de aula ou no campo de futebol – porque não compartilha as crenças religiosas de seus treinadores, professores ou colegas”.
O treinador
O contraponto à opinião da direção da escola e seus advogados é feito por Kelly Shackelford, presidente da First Liberty, entidade de defesa das liberdades religiosa e de expressão, que está representando o treinador em todo o processo, ao lado de um escritório de advocacia.
“Nenhum professor ou treinador deve perder o emprego por simplesmente expressar sua fé em público. Ao aceitar este importante caso, a Suprema Corte pode proteger o direito de todo americano de se envolver em expressão religiosa privada, incluindo orar em público, sem medo de punição”, avaliou Kelly.
O treinador afirmou que jamais deixará de expressar o que acredita: “Antes de treinar meu primeiro jogo, em 2008, assumi um compromisso com Deus de agradecer após cada jogo – vitória ou derrota – pela oportunidade de ser treinador de futebol e pelos meus jogadores. Fiquei inspirado a fazer isso depois de assistir ao filme Desafiando Gigantes”.
De acordo com informações do portal Faith Pot, todo o problema que custou o emprego de Joe Kennedy começou com um elogio de um administrador da escola vizinha, e não com uma reclamação.
Depois disso, o treinador foi procurado pela administração da escola, que solicitou que ele deixasse de orar com sua equipe em público: “Meu distrito escolar me instruiu que eu poderia orar desde que não estivesse liderando meus jogadores em oração”, relembrou.
“Fiquei muito feliz em cumprir essa diretriz e esclareci que oraria sozinho. Mas então o distrito escolar emitiu uma nova política e dizia que eu não podia orar onde outros pudessem me ver”, acrescentou, indicando que a motivação da direção da escola seria de supressão de sua liberdade religiosa.
Até sua demissão, após cada jogo, durante sete anos, ele caminhou em direção ao centro do campo, ajoelhou-se e fez uma breve oração de agradecimento.
“Apenas horas antes do que seria meu último jogo como treinador, o distrito escolar me deu um ultimato: se eu orasse depois do jogo daquela noite, eles me suspenderiam. Como um fuzileiro naval dos EUA orgulhosamente aposentado, algo dentro de mim se agitou. Eu teria dado minha vida defendendo a liberdade religiosa de qualquer americano e, no entanto, esse direito me foi negado. Isso parecia errado e injusto”, desabafou.
Em resposta ao ultimato dado pela direção da escola, ele orou após a partida, e a demissão foi formalizada. Depois disso, ele moveu um processo contra a escola para “reivindicar [seus] direitos de liberdade de expressão e livre exercício das crenças religiosas”, e agora o caso será analisado pela Suprema Corte.