Um transexual que se identifica como Mel Rosário é o centro de um documentário que aponta os evangélicos como “transfóbicos” por priorizarem a verdade bíblica ao conceito politicamente correto que acompanha o progressismo. O filme, Toda Noite Estarei Lá, será exibido em um festival na Suíça.
Mel Rosário, que trabalha em um salão de cabeleireiros, frequentava uma igreja em Vitória (ES) e alega que terminou sendo expulso da congregação por rejeitar as sugestões dos membros para mudar de visual, vestindo-se como homem e cortando os cabelos.
Alegando ter sido vítima de violência física na igreja, Rosário decidiu que iria todos os dias de culto na porta do templo, usando cartazes com dizeres inspirados em versículos bíblicos. Seu caso virou um documentário curta-metragem, chamado Toda Noite Estarei Lá em 2017, com direção de Thiago Moulin.
A repercussão do filme inspirou as cineastas Tati Franklin e Suellen Vasconcelos a rodarem uma versão de longa-metragem, homônima, com a produção do diretor original, Moulin.
De acordo com informações do portal A Gazeta, o documentário está em fase final de montagem e foi selecionado para um laboratório no festival Visions du Réel, um dos mais importantes do gênero documental na Europa, realizado de 15 a 25 de abril, na Suíça.
O filme vai se dedicar a mostrar Rosário como vítima, revela o produtor: “Vemos que ela sempre teve o sonho de ser vendedora de carros. Por conta da transfobia, teve que abandonar esse desejo e seguir um caminho possível, que é trabalhando como cabeleireira. Ao expor esse sonho e lutar por ele, ela mostra a importância de não estereotipar profissões. Afinal, trabalhar com vendas de carros é um universo tipicamente masculino, marcado, quase sempre, por machismo, homofobia e transfobia”.
Subversão
Como Rosário atraiu holofotes acusando evangélicos de preconceito, essa perspectiva será novamente contada no novo documentário: “Alguns membros querem que ela corte o cabelo e se vista como homem. Mel não desiste de lutar, pois, deseja ‘abrir uma porta’, ou seja, levantar um debate sobre o poder político da Igreja, lutando contra a transfobia e a favor da aceitação. Além disso, tem o direito de expressar a sua religiosidade”, afirmou Moulin.
No filme, a convicção dos fiéis em conservarem a teologia e a doutrina da igreja deve ser apresentada de forma distorcida, pois Moulin declarou ter ouvido de Rosário a frase “penso que sirvo como um troféu para a cura gay”, o que mostra, novamente, a percepção do personagem central sobre as motivações da congregação.
O produtor, que diz ser casado com uma mulher evangélica, revelou seus objetivos para o documentário: “Quero que minhas filhas cresçam conhecendo bem o que é religião, transfobia e homofobia. Quero, também, ajudar a fazer um retrato sobre o Brasil na década de 2020, especialmente sua luta pela aceitação das minorias”, encerrou.