O caso envolvendo a cantora Bianca Toledo e o pastor Felipe Heiderich suscita muitas perguntas e dúvidas, além de dividir opiniões por causa da postura adotada por ela ao tornar públicas as acusações feitas ao ex-marido na Polícia.
A blogueira Vera Siqueira, esposa do pastor Paulo Siqueira, publicou um artigo fazendo considerações a respeito do escândalo envolvendo o casal, e destacou que o empresário “Renato Pimentel, pai da criança supostamente abusada, colocou-se em posição de prudência em relação às acusações de Bianca a Heiderich”, apontando que a história pode, ao final das contas, não ser a que ambos estão contando.
“Enfim, tragédia sobre tragédia”, constata a blogueira. “Não há como testificar quem está com a razão. A verdade talvez só os envolvidos saibam. E Deus, é claro”, acrescenta.
Vera destaca que seu interesse é contemplar as “implicações que tal caso traz ao universo religioso, mais especificamente à pregação do Evangelho”, pois os envolvidos “são pessoas que lideram ministérios e têm alguma fama no meio gospel, e tal caso serve de exemplo para muito do que acontece em boa parte das igrejas evangélicas”.
Fazendo um breve retrospecto, a blogueira pontua que “Bianca Toledo vendeu seu segundo casamento como um conto de fadas moderno gospel”, onde o pastor Felipe Heiderich aparecia como “um príncipe, era a ‘promessa de Deus’, a ‘recompensa’ após todo o sofrimento pelo qual passara”, e agora “vimos tal príncipe sendo taxado como sapo”.
“Bianca Toledo foi catapultada ao subestrelato gospel após divulgar aos quatro cantos seu testemunho de vida, no qual passou por uma grave enfermidade, chegando muito próximo da morte. Esse testemunho não foi apenas contado em igrejas. Virou livros, seminários, DVDs (preste atenção no plural: não foi um livro e um DVD, embora o testemunho fosse o mesmo). Enfim, digamos que rendeu – e rende – um bom dinheiro para a cantora”, comentou Vera.
A bloqueira trouxe um contraponto histórico e bíblico para expressar seu ponto de vista sobre o contexto em que o escândalo de Bianca e Felipe brotou: “Em Oseias vemos Deus (o de verdade) ordenando ao profeta que se case com uma mulher adúltera. Mas nesse caso Deus não escondeu o pecado de Gomer: Oseias não se casou enganado. E esse casamento serviu como uma alegoria de como Israel adulterava religiosamente (ou seja, nada parecido com a ‘promessa de deus’ de Bianca Toledo). Colocar vontades humanas como sendo divinas é uma das estratégias de engano de lideranças religiosas. É como se mistificassem cada escolha, cada passo dado. É como se dissessem que Deus controla tudo em suas vidas, porém na verdade tal controle pertence unicamente a esses religiosos”, criticou.
Com uma referência à segunda carta do apóstolo Paulo a Timóteo, quando ele o alerta sobre a ânsia do povo por fábulas e o desprezo pela verdade, Vera Siqueira explica a fórmula do sucesso no meio evangélico atual: “Se alguém quer ganhar muito dinheiro no mundo gospel, uma das alternativas é ter um testemunho impactante para vender para a plateia. Não vale dizer que era um pecador e um dia Cristo lhe tocou: tem que ser ex-aidético, ex-macumbeiro, ex-bruxo, ex-satanista, ex-gay, e se for todas essas coisas ao mesmo tempo, então o sucesso gospel é garantido!”, ironizou.
A receita “para tornar os testemunhos mais emocionantes (e mais lucrativos)”, segundo Vera, exige que se dê “uma ‘melhorada’ na história”, para que “o povo, tocado pelo consumismo e pela idolatria gospel, passe a comprar todo e qualquer material do testemunhante e a considerá-lo alguém mais santo e ungido que os demais, afinal Deus fez um grande milagre em sua vida”.
No artigo, a blogueira, no entanto, alerta que “o grande milagre de Deus é a salvação, seja do que estava perdido nas drogas e nas sarjetas, seja daquele que nasceu e viveu em berço cristão”.
Voltando ao caso da cantora e missionária, Vera afirma que “Bianca Toledo precisava da mídia gospel para ‘vender’ seu testemunho, mas a mídia (seja gospel ou qualquer outra) dá com uma mão e tira com a outra”, pois o que é do interesse do público “é a fofoca, o escândalo”. E usa como ilustração dois casos recentes: “Menininha doando sua mesada para alimentar crianças pobres não vende jornal. Mas menininha sendo estuprada por 30, aí…”, diz a blogueira.
Ao final, ela destaca que “quem quer fama gospel dá o que a plateia quer. Um alimenta o outro, e ambos vão juntos para o abismo, pois Deus nada tem a ver com isso”, e chama a atenção para o que poderia ser a motivação de Bianca Toledo ao tornar o caso público: “O que importa é expor nacionalmente todo o caso, para ‘justificar’ mais um divórcio (e pior, um divórcio de um casamento dos sonhos de deus) perante os seguidores e fiéis. Abrindo o jogo, lançando fogo midiático contra o adversário (mesmo que respingue no filho, no chamado ‘fogo-amigo’), obtém-se a chance de manipular a opinião a seu favor e ainda abrir caminho para um futuro terceiro casamento pela ‘vontade de deus’. E ainda abre espaço para novos livros e DVDs contando mais essa trágica história”, lamenta.