O candidato à presidência Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista à GloboNews na última sexta-feira, 03 de agosto, e o programa foi marcado por um constrangimento singular à emissora. Enquanto isso, o pastor Silas Malafaia comentava, em tempo real, a situação em seu Twitter, expressando suas indignações em relação à imprensa.
A entrevista de Bolsonaro à GloboNews foi marcada, novamente (assim como já havia acontecido no Roda Viva, da TV Cultura), por uma insistência dos jornalistas em questionarem o candidato a respeito do Regime Militar instaurado em 1964, pelo fato de ele ser capitão da reserva do Exército.
O nível de hostilidade dos jornalistas ficou nítido a quem acompanhava a sabatina, com a âncora Miriam Leitão chegando ao ponto de gritar para encobrir a voz de Bolsonaro durante um dos momentos de maior tensão.
Nesse contexto, o candidato reforçou seu argumento em relação ao Regime Militar – que sempre destaca como um período de baixa corrupção e grande desenvolvimento econômico, dois pontos que são fatos consolidados – afirmando que o fundador do Grupo Globo, jornalista Roberto Marinho, apoiou o ato do Congresso Nacional em 1964 de destituir o então presidente João Goulart para transferir o poder aos militares.
Os jornalistas presentes, sem ter como argumentar em contrário, não refutaram o candidato e, ao final do programa, a emissora decidiu manter a entrevista no ar enquanto o editor responsável produzia uma nota sobre as declarações. Miriam Leitão recitou o que era dito a ela através do ponto eletrônico, e a cena foi amplamente repercutida nas redes sociais. Assista:
Principais pontos da entrevista
Ideologia de Gênero
“Nunca fui homofóbico. [Mas] eu não posso admitir que crianças com seis anos de idade assistam a filmes como ‘Encontrando Bianca’, onde meninos se beijam, meninas se acariciam, para combater a homofobia. Está na cara que a criancinha de seis anos de idade que assistir a isso, no intervalo, o Joãozinho vai querer namorar o Pedrinho. Um pai não quer chegar em casa e encontrar o filho brincando de boneca por influência da escola”.
Petrobras
“Se não tiver uma solução, eu sugiro a privatização da Petrobras. Acaba com esse monopólio estatal e ponto final. Então, é o recado que eu dou para o pessoal da Petrobras […] Eu entendo que a Petrobras é estratégica. Por isso não gostaria de privatizar a Petrobras, esse é o sentimento meu. Agora, se não tiver solução, não tiver um acordo, você não vai ter outro caminho”.
Salários femininos
“Se você quiser interferir no mercado, você vai quebrar de vez. Não é que tem quem ganha menos ou mais. Isso vai do entendimento de quem contrata. Você vai chegar e vai dizer que [homens e mulheres] têm que ganhar a mesma coisa? […] Você não tem como interferir no mercado. Isso é um absurdo”.
Violência contra mulher
“Você vai fazer uma viagem […]. Você não se sentiria mais segura se pudesse, desde que estivesse habilitada, ter uma arma no teu carro? Porque pode furar um pneu na Rio-Santos e você ter que trocar e, daí, se chega alguém para fazer uma maldade contigo, você vai sacar do bolso a lei do feminicídio? Ele [o bandido] vai dar risada de você”.
Indígenas
“O índio quer se integrar à sociedade, ele quer um dentista, ele quer um médico, ele quer energia elétrica. Nós não podemos fazer com que o índio continue vivendo dentro da reserva indígena como se fosse um animal de zoológico. É isso o que acontece. O mundo está de olho no Brasil”.
STF
“Se fizermos uma pesquisa sobre a credibilidade do Congresso Nacional e do Supremo, os números serão muito próximos. Lamentavelmente, o nosso Supremo está deixando a desejar. […] Praticamente desistimos da ideia [de propor aumentar o número de ministros de 11 para 21], até porque não seria uma imposição minha, dependeria de emenda constitucional”.
Tortura
“A palavra tortura cai em mim por eu ser militar. É inadmissível a tortura. Na própria Câmara, eu cheguei em 1991, capitão do Exército […], tinha um montão de ex-preso político, anistiado, e o pessoal olhava para mim com muito carinho […] e ali, está certo, nesses embates, falavam coisas que não eram verdades, queriam se vitimizar. Algumas eram [verdade], outras não. E daí as caneladas minhas aconteceram lá dentro”.
Ensino militar
“Eu acho que em cada comunidade pobre que nós temos aqui [no Rio], temos o Alemão, temos Mangueira, temos tantas, tem a própria Rocinha, se ali embaixo pintar um colégio militarizado, eu acho que vai ajudar em muito e muito mais que a própria UPP, que no meu entender exauriu-se e não deu certo”.
Vice
“Ou vai ser a senhora Janaína Paschoal, ou o senhor príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança. [O que] está faltando é que eu estou conversando com a Janaína e ela apresenta alguns problemas familiares, porque ela tem dois filhos. […] Não posso ter preferência. Lógico, sempre, a gente pensa em um ‘plano B’. No momento, o ‘plano B’ é o príncipe”.
Malafaia
O pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) destacou a falta de interesse dos entrevistadores no que o candidato tem para propor ao país em caso de vitória nas eleições: “Os jornalistas sempre voltando para o assunto dos governos militares como se Bolsonaro fosse o responsáveis por esses governos. Fizeram besteira, é verdade, mas fizeram muita coisa boa”, escreveu Malafaia no Twitter.
A questão da igualdade salarial entre homem e mulher foi um dos pontos da entrevista, e o pastor não deixou passar: “Jornalista imbecil da Globonews querendo botar na conta de Bolsonaro que as mulheres ganham menos que os homens. Jornalismo idiota!”, afirmou.
Em outro ponto, Jair Bolsonaro se manifestou contra a presença da ideologia de gênero na educação infantil, citando o princípio de que a educação sobre valores é familiar. “Nunca fui homofóbico. [Mas] eu não posso admitir que crianças com seis anos de idade assistam a filmes como Encontrando Bianca, onde meninos se beijam, meninas se acariciam, para combater a homofobia. Está na cara que a criancinha de seis anos de idade que assistir a isso, no intervalo, o Joãozinho vai querer namorar o Pedrinho. Um pai não quer chegar em casa e encontrar o filho brincando de boneca por influência da escola”, afirmou.
“SENSACIONAL BOLSONARO! Chumbo grosso na ideologia de gênero.Quem educa são os pais”, entusiasmou-se Malafaia.
Quando Jair Bolsonaro recitou o editorial de Roberto Marinho em apoio ao Regime Militar, Malafaia não se conteve de empolgação: “ACABOU! ACABOU! Manda encerrar a entrevista na Globonews, Bolsonaro cita João Roberto Marinho apoiando a revolução de 1964. Calou a banca kkkkkk”.
Repercussão
O jornalista Renato Rovai, editor da Revista Forum, publicou um comentário sobre como Jair Bolsonaro silenciou seus entrevistadores a respeito dos anos sob comando dos militares: “Ao ser indagado sobre se houve ou não ditadura militar no Brasil no último bloco da entrevista da GloboNews, por Roberto D´Avila, Bolsonaro aproveitou para dançar funk com samba e passou a recitar de cor um editorial de O Globo assinado por Roberto Marinho, que segundo ele foi um grande democrata”, contextualizou Rovai.
“Neste editorial, Marinho defendia o legado da revolução que tirou o Brasil de uma ditadura comunista. […] A bancada de nove jornalistas presentes não sabia o que fazer, se calou. E Bolsonaro continuou dizendo que a Globo e a Veja foram criadas já na ditadura, como havia dito no Roda Viva. E o silêncio continuou imperando. Os ossos da ditadura enterrados na história da Globo sentiram a dor do silêncio. Bolsonaro ganhou o último round. E saiu muito maior da GloboNews“, resumiu Roberto Rovai.
É daqui para frente. Esse é o Brasil que queremos, não essa atual inversão de valores. pic.twitter.com/lLWsuaNLWN
— Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP) 4 de agosto de 2018
Covardia dupla! Só emitiram essa nota após a morte de Roberto Marinho, sob seu túmulo e citaram o fato no final do programa… Ao que parece honrar o passado e assumir responsabilidade de seus atos não é o forte dos “valorosos globais”. https://t.co/nbFlGi0hjF
— Eduardo Bolsonaro (@BolsonaroSP) 4 de agosto de 2018
NUNCA VI UM MICO JORNALÍSTICO COMO ESSE NA MINHA VIDA.MIRIAM LEITÃO IGUAL UM BONECO FALANDO O QUE O CHEFE DITAVA PELO PONTO ELETRÔNICO. TENTANDO RESPONDER O INDEFENSÁVEL SOBRE A FALA DE BOLSONARO.SÓ KKKKKKKK ISSO É JORNALISMO INDEPENDENTE? CONDUZIDOS POR PONTO ELETRÔNICO KKKKK
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) 4 de agosto de 2018
O final da nota da Globo, com a traição à memória de Roberto Marinho, é uma das coisas mais estúpidas que alguém já escreveu.
“A democracia só pode ser salva por si mesma.”
Os venezuelanos mortos de fome e escravizados que o digam!
— Leandro Ruschel 🗣 (@leandroruschel) 4 de agosto de 2018
Miriam Leitão e seu momento Chico Xavier será lembrada por décadas como um dos maiores micos da história da TV brasileira.
— Flavio Morgenstern (@flaviomorgen) 4 de agosto de 2018
Agora falando sério. Eu nunca vi algo tão vergonhoso em toda minha vida! @jairbolsonaro conseguiu o que parecia impossivel: desestabilizou a Globo de forma acachapante e ao vivo!
— Bene Barbosa – MVB (@benebarbosa_mvb) 4 de agosto de 2018
Até onde vai a globo , apos a entrevista de Bolsonaro a globo hoje , reconhece q para agradar a pretalhada em 2013 desautorizou o editorial assinado pelo fundador Roberto Marinho relativo ao apoio ao Regime Militar que salvou o Brasil de uma Ditadura Comunista
— Onyx Lorenzoni (@onyxlorenzoni) 4 de agosto de 2018
Jair Bolsonaro ao ditar palavra por palavra do editorial de Roberto Marinho (louvando a Revolução de 1964) pergunta:
– Roberto Marinho é um ditador ou democrata?
– Silêncio no estúdio!
— Gil Diniz (@carteiroreaca) 4 de agosto de 2018
Que patético esse desfecho da Miriam Leitão! Papelão. Querer reescrever a história é mesmo coisa de esquerdista.
— Beatriz kicis (@Biakicis) 4 de agosto de 2018
Quanto mais os bandidos choram mais convicção temos de nossa direção. Graças a internet, e agora, ao Roda Viva e a Globo News, a verdade que Bolsonaro expõe ganha projeções ainda maiores. Lembrando que discordar é humano e necessário, mas se afastar de desonestos faz bem à saúde!
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) 4 de agosto de 2018