As declarações da cantora Ana Paula Valadão a respeito da homossexualidade sob a perspectiva bíblica, assim como a constatação de que a incidência de casos de HIV entre LGBTs é maior, estão sendo alvo de um inquérito do Ministério Público Federal (MPF).
A abertura do inquérito já traz indicativos que o MPF irá se posicionar contra a líder do ministério Diante do Trono: “A situação, na forma em que foi narrada, caracteriza-se como ‘discurso de ódio’, restando ao Estado o dever de proteger as vítimas e responsabilizar os infratores, de maneira que essa atuação é ainda mais necessária no atual cenário brasileiro, em que a homofobia se encontra tão presente e multiplicam-se casos de ódio e intolerância”, diz trecho da portaria sobre o início da investigação, conforme informações do jornal O Globo.
A polêmica, iniciada há aproximadamente dois meses, se refere a uma afirmação feita pela cantora em março de 2016, durante o Congresso DT, que foi transmitido pela Rede Super. Na ocasião, que a homossexualidade “não é normal” e que o resultado das práticas pecaminosas é a morte, no sentido espiritual, como diz a Bíblia Sagrada.
“Isso não é normal. Deus criou o homem e a mulher e é assim que nós cremos. Qualquer outra opção sexual é uma escolha do livre-arbítrio do ser humano. E qualquer escolha leva a consequências”, disse Ana Paula Valadão.
“A Bíblia chama de qualquer opção contrária ao que Deus determinou, de pecado. E o pecado tem uma consequência que é a morte. Taí a AIDS para mostrar que a união sexual entre dois homens causa uma enfermidade que leva à morte e contamina as mulheres, enfim… Não é o ideal de Deus”, acrescentou.
Dados
As críticas à declaração de Ana Paula Valadão jogaram luz sobre números do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, publicado em dezembro de 2019, usado como argumento contra a percepção da cantora de que há mais homossexuais com HIV do que heterossexuais.
De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 248.520 novos casos de pacientes com HIV entre 2007 e 2019. Destes pacientes, 143.506 se declararam heterossexuais (58%), e 105.014 (42%) homossexuais. Entretanto, os dados do boletim epidemiológico consideram apenas números absolutos, e não fazem a correlação com a proporção da população.
Segundo informações do jornal Gazeta do Povo, a pesquisa “HIV Prevalence among men who have sex with men in Brazil”, assinada por 26 pesquisadores e publicada pelo Ministério da Saúde em 2018, trouxe dados que atualizaram um estudo anterior, de 2009, mostrando que entre homens que fazem sexo com outros homens, 18,4% são portadores do vírus HIV.
O mesmo estudo indicou que essa taxa de infecção entre a população em geral é de apenas 0,4%, o que torna a presença do HIV muito maior proporcionalmente entre os homossexuais. “Apesar de a evidência global indicar uma redução de casos de Aids em muitos países, a epidemia do vírus entre homens que fazem sexo com homens parece estar aumentando, em países de renda baixa, média e alta”, diz o relatório.