Em todo o planeta, o número de mortos pelo novo coronavírus causa preocupação e lamento, mas não só pelas consequências da doença, em si, como também pela politização gerada sobre o assunto, incluindo o uso manipulativo da fé em nome de Deus.
Se há fanatismo de um lado, onde o negacionismo e também a oferta de falsas curas são oferecidas, por outro também há o radicalismo de quem tenta atribuir a pastores a responsabilidade pelas mortes da Covid-19, como fez o teólogo e escritor Ronilson Pacheco.
Em um artigo para o portal UOL, Ronilson diz que “pastores bolsonaristas têm responsabilidade no número de mortos”, incluindo em seu balaio de conceito pastoral figuras como o deputado Marco Feliciano, Silas Malafaia, R. R. Soares e outros.
Ronilson, conhecido por militar pelo viés ideológico da esquerda política, onde utiliza o conceito de “teologia negra” como ferramenta de debate, criticou o fato dos pastores citados por ele, rotulados como “bolsonaristas”, terem convocado um jejum nacional lado ao presidente Jair Bolsonaro em 04 de abril passado.
Para o teólogo-militante esquerdista, a iniciativa no campo da fé se mostrou falha, já que o número de mortos pelo coronavírus só fez crescer nos meses seguintes.
“Quatro meses depois, em agosto, o Brasil alcançava a surpreendente marca dos 100 mil mortos, todos os estados registram mortes, e o país, após a renúncia de dois ministros da Saúde, não possuía um titular para a pasta. Eu não sei se eles imaginavam um cenário pior, mas certamente a catástrofe não foi aniquilada, e nem as previsões ruins caíram por terra. As previsões se confirmaram”, afirma Ronilson.
“Fosse outra situação, ou outro contexto, poderia soar cômico. Mas não tem como. É apenas trágico. É trágico que homens imbuídos de uma responsabilidade religiosa, e que tenham sob sua autoridade e ‘cuidado’ tantas vidas, sejam tão negligentes e banalizem tanto a fé de seu povo e os símbolos desta fé”, completou o teólogo.
A responsabilização que Ronilson Pacheco atribui aos “pastores bolsonaristas” se justificaria, segundo ele, por motivo de influência. O teólogo insinua que os 120 mil mortos pela Covid-19, entre os quais, certamente, um grande número de não evangélicos, foram influenciados diretamente por esses pastores.
“Por influência direta de suas afirmações e orientações, muitas pessoas que os tem como referência e liderança, baixaram a guarda, desprezaram os riscos. Afinal, os números ainda eram relativamente baixos, se comparados com a Europa e Estados Unidos, e talvez “a fé resolveria”. Ao invés de usarem sua autoridade para recomendar cuidado e proteção, incentivaram a exposição e a desconfiança”, afirma Ronilson.
A declaração fatalista de Ronilson Pacheco, de fato, soa polêmica, assim como soou quando o mesmo se posicionou favorável ao aborto realizado na menina de 10 anos estuprada pelo tio no Espírito Santo.
Na ocasião, também em um artigo para o UOL, o teólogo-militante afirmou que os grupos pró-vida que se posicionaram contra o aborto são, na verdade, “grupos de ódio” que se encaixam muito mais no conceito de terroristas.
“Grupos pró-vida e pró-família se encaixam muito mais na chamada ‘Lei Antiterrorismo’ do que muitos grupos e movimentos sociais de esquerda acusados de usarem de violência e vandalismo”, afirmou Ronilson.
“Grupos pró-família e pró-vida são grupos de ódio. Eles nasceram assim nos Estados Unidos, eles permanecem assim no Brasil”, diz o representante da Teologia Negra.
“Cristãos progressistas”
Recentemente, o pastor, teólogo e escritor Franklin Ferreira, presidente do conselho do movimento Coalizão Pelo Evangelho e dirigente do Seminário Martin Bucer, fez um alerta sobre os discursos dos chamados “cristãos progressistas”, conceito no qual Ronilson Pacheco pode se enquadrar.
Isso porque, a declaração de Ferreira foi uma resposta justamente a Ronilson, que criticou outros líderes proeminentes no meio cristão-protestante, como Renato Vargens e Tiago Santos, por exporem a face agressiva e o viés ideológico de esquerda por trás do movimento Black Lives Matter.
Ferreira explica que a posição teológica de figuras como Ronilson, na verdade, não se encaixa na tradição cristã, sugerindo que o uso do cristianismo nesses casos é nada mais do que uma forma de emplacar uma narrativa de natureza política/cultural que diverge da Palavra de Deus.
“Deve-se deixar claro que os ‘cristãos progressistas não estão questionando questões secundárias ou não-essenciais à fé. Eles romperam com ‘aquilo que foi crido em todo lugar, em todo tempo e por todos [os fiéis]’ (Vicente de Lérins), a fé comum a cristãos católicos, protestantes e pentecostais”, diz o pastor.
“Estes ‘cristãos progressistas’ tornam absoluta toda a agenda atrelada aos anseios hegemônicos da esquerda e extrema-esquerda, defendendo ferrenhamente a união homoafetiva e a redefinição do conceito de família; a defesa do aborto; a liberalização das drogas; o antissemitismo e antissionismo, e Israel como um ‘estado terrorista’”, ressalta Ferreira. Para saber mais, clique aqui.