O delegado Henrique Pessoa foi afastado de suas funções após se envolver numa confusão que terminou com um fiel evangélico baleado na última semana. Pessoa era titular da 79ª DP (Jurujuba) e integrava a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) da Polícia Civil.
No dia 03 de setembro, Pessoa compareceu a uma audiência de reconciliação no V Juizado Especial Cível com o pastor Tupirani da Hora Lores, líder da igreja Geração Jesus Cristo, a quem processa por perseguição.
Ao final da audiência, o delegado foi cercado e pressionado por um grupo de fiéis da denominação, e sacou sua arma e disparou para o chão. O tiro atingiu um dos membros da igreja, que precisou ser levado a um hospital.
O chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Veloso, afastou Pessoa de suas funções após a abertura de um inquérito que vai apurar se o delegado cometeu uma tentativa de homicídio contra o fiel baleado.
O delegado afastado afirmou que agiu em legítima defesa, pois o grupo de fiéis que o cercou era formado por aproximadamente 20 pessoas, e ele se sentiu acuado.
Combate à Intolerância
No lugar de Pessoa na CCIR, Veloso colocou os delegados José Pedro Costa da Silva, Ricardo Dominguez Pereira e José Renato Magnani Chernicharo. A indicação foi comentada pelo babalorixá Ivanir do Santos, que integra a comissão: “Espero que os delegados sejam tão dedicados à causa quanto Henrique Pessoa”.
Segundo o jornal O Globo, Ivanir dos Santos, praticante do candomblé, vai promover um evento em homenagem ao delegado afastado, mesmo com uma investigação por tentativa de homicídio em andamento.
A iniciativa do babalorixá foi comentada pelo blogueiro Paulo Teixeira, editor do site Holofote: “Um delegado que é preso em flagrante e afastado de suas funções por ter atirado em uma pessoa merece receber homenagens? Em que país estamos? A homenagem que fará ao delegado não será por ter dado o tiro, creio assim, mas por sua passagem pela CCIR. Todavia não justifica tal evento diante do ato brutal por ele cometido. O babalorixá Ivanir dos Santos deveria colocar a mão na consciência e entender que o delegado não merece ser homenageado, mas pelo contrário, responder por seu ato, à luz da lei”, ponderou.
Teixeira também criticou a parcialidade das ações da CCIR e os interesses a que esse grupo de ação atendem: “O que se tem observado é que a existência dessa Comissão não implica que esta de fato combata os atos de intolerância religiosa contra outras religiões, se não contra as afro-brasileiras. Como exemplo, cito o vilipêndio aos símbolos católicos ocorrido por ocasião da Jornada Mundial da Juventude realizada no Rio, em 2013, por integrantes da ‘marcha das vadias’. Não foi patente aos olhos da sociedade qualquer ação proposta por essa Comissão que visasse acionar judicialmente os intolerantes. Tanto o delegado que deu o tiro no evangélico como o babalorixá sempre disseram que são contra a intolerância religiosa e até faziam parte da CCIR. Todavia, as recentes ocorrências mostram à sociedade a realidade”.