O evangélico que for escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para o STF precisará ser alguém “terrivelmente preparado” para o posto. Em entrevista, Silas Malafaia falou sobre esse tema, mas também sobre o ocaso de Lula (PT) após condenações por envolvimento em casos de corrupção.
Sobre Lula, Malafaia disse que sua prisão não é a única frustração de eleitores que uma vez deram votos de confiança ao líder de esquerda. O pastor, que já o apoiou no passado, conta que acreditou que o ex-presidente poderia transformar o Brasil, mas descobriu que estava equivocado.
Aos 60 anos de idade, o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) revelou que foi enganado pelo discurso do petista.
“Acreditei que o Lula pudesse resgatar o país por ser um cara de origem pobre. Mas depois eu fui ver que ele não saía da sua ideologia. Apoiei acreditando, como grande parte dos brasileiros. Se eu disser que não acreditei, sou mentiroso. Quando votei no [José] Serra e no Aécio [Neves, ambos do PSDB], eu não tinha outra opção. Ou votava na esquerda, que já tinha posto as unhas de fora, ou votava neles. Mas, no Lula, votei acreditando. Para mim, ele foi a decepção”, lamentou Malafaia.
Na entrevista concedida ao jornal O Dia, o pastor – um dos principais conselheiros do presidente Bolsonaro – afirmou que as duas pessoas que forem indicadas por Bolsonaro até dezembro de 2022 para ocuparem as vagas que serão abertas no STF têm que ser competentes e profundas conhecedoras do Direito.
“Podem ser terrivelmente evangélicos, mas têm de ser terrivelmente preparado. Posso dizer a você: o advogado da AGU [Advocacia Geral da União, pastor André Mendonça]. O [juiz federal Marcelo] Brêtas. O Guilherme Schelb, procurador-geral da República. Tem o juiz federal de Niterói, William Douglas. Todos evangélicos. A questão não é ser evangélico ou não. Até nos Estados Unidos, a maior democracia do mundo, quando se elege um presidente da linha de direita, manda-se para a Suprema Corte um cara de viés de direita. É normal, natural”, avaliou.
O termo “terrivelmente” passou a ser usado em referência aos evangélicos do governo Bolsonaro após a ministra Damares Alves, bombardeada por críticas da grande mídia, ter reiterado seus valores e princípios baseados em sua profissão de fé cristã.
Segundo Silas Malafaia, não há uma exigência por parte das lideranças evangélicas que se coloque alguém do segmento no STF. “O Bolsonaro vai colocar alguém do viés ideológico que ele acredita. É isso que estou falando. Se ele está dizendo que vai pôr um evangélico, é porque pertence a um viés ideológico que ele acredita”, afirmou, novamente fazendo referência ao conservadorismo.
Questionado pelo jornalista Cássio Bruno se é favorável a essa ideia, Malafaia minimizou a importância da profissão de fé da pessoa que será escolhida: “Eu não tenho nada contra. Na Suprema Corte, tem gente católica, tem judeu. Ter um evangélico não é nada demais, não”.
O ministro Sérgio Moro, que foi alvo de invasão em seu celular por parte de hackers e teve parte de seus diálogos publicados pelo portal The Intercept BR, também foi assunto na entrevista.
Para Malafaia, não há motivos para que o presidente demita o ex-juiz: “Como é que você vai construir alguma coisa contra uma pessoa baseado em crime? O que fizeram é crime. Como é que ele vai deixar o governo por causa de um crime? Já está provado! Tem montagem, tem safadeza”.
O jornalista, entretanto, insiste no tema, questionando se “Moro não está desgastado com o episódio”. Para o pastor, há fatos que mostram o contrário: “A prova de que não está são as manifestações nas ruas a favor dele. Pode estar desgastado por um viés de imprensa de esquerda, que quer desgastar o cara. Mas desgastado em quê? Não conheço o desgaste de Sergio Moro. O povo não reprova o cara”.
Por fim, Malafaia foi questionado se considera justas as mudanças que a bancada evangélica vêm pedindo ao governo em relação às obrigações fiscais junto à Receita Federal. O líder da ADVEC enfatizou que a isenção fiscal não está em discussão, uma vez que essa previsão é constitucional, e esclareceu que as solicitações se dão em relação a burocracias impostas nos governos petistas.
“Isso é a maior safadeza, preconceito, bandidagem. Ninguém afrouxou nada para igreja evangélica. As religiões têm uma coisa chamada imunidade tributária constitucional. Não está afrouxando porcaria nenhuma. Está cumprindo o que a Constituição garante à igreja evangélica, à Católica, a um centro espírita. Isso aí é todo um jogo para desgastar o presidente e também nos desgastar. A safadeza que foi feita contra as religiões a partir de 2015, no governo Dilma, que pôs um monte de pegadinha para tentar multar e arrancar dinheiro das instituições que têm imunidade tributária. Não afrouxou patavina nenhuma para nada. É direito constitucional. O resto é conversa”, disparou.