A enxurrada de acusações contra Marco Feliciano incluem denúncias de racismo, homofobia, e até intolerância. De um lado, os ativistas gays e demais manifestantes, do outro, o pastor que fez declarações polêmicas.
Pastor pentecostal renomado no meio evangélico, Feliciano exerce seu primeiro mandato como deputado federal, eleito com mais de 212 mil votos, sendo o terceiro mais bem votado no estado de São Paulo em 2010.
Em sua caminhada política, travou debates e discussões com o colega parlamentar Jean Wyllys, por suas posturas contrárias à prática homossexual, e saiu em defesa do pastor Yousef Nadarkhani, buscando intermediações com a Embaixada do Irã.
Figura controversa e de declarações muitas vezes desmedidas, o pastor tem tentado rebater as acusações feitas contra ele de forma tranquila. Boa parte das declarações atribuídas ao pastor são publicadas numa página no Facebook, que se autointitula oficial, mas que na verdade é falsa. Procurada pelo Gospel+, a equipe do deputado disse que tomara as medidas cabíveis contra a página.
Dias atrás, Feliciano rebateu o princípio de que seria racista divulgando uma foto em sua verdadeira página, abraçado ao padrasto e à sua mãe, ambos negros.
“Feliciano é, pois, enteado de um negro, filho de uma negra e, segundo os critérios que orientam as leis de cotas no Brasil, também é… negro! Não obstante, querem acusá-lo de racismo por uma frase tonta escrita no Twitter”, escreveu o jornalista Reinaldo Azevedo em sua coluna no site da revista Veja.
A acusação contra o pastor foi feita por causa de uma publicação em que ele dizia que um dos descendentes de Noé, seu filho Cão, teria sido amaldiçoado e mudado para a África, citando ainda que isso era uma passagem bíblica.
A frase isolada do contexto foi o suficiente para que a mídia o acusasse de racismo. “Há um monte de branco raivoso apontando o dedo para o negro Feliciano. Já demonstrei aqui que ele apenas citava uma passagem do Gênesis — e ainda errava sobre a origem bíblica dos africanos. Na democracia, as pessoas são livres para falar e escrever tolices”, afirma Azevedo, deixando claro sua discordância a respeito da visão de Feliciano sobre a passagem bíblica, mas ressaltando seu direito à liberdade de expressão sem ser taxado de racista.
O jornalista pontua ainda que a “patrulha”, termo usado por ele para se referir aos manifestantes que acusam Feliciano de racismo, homofobia e intolerância, teve seus argumentos derrubados: “Quando afirmei que aquele seu tuíte não era expressão de racismo, eu o fiz com base apenas no seu conteúdo e na referência bíblica. Agora, diante desse fato [padrasto e mãe negra], a acusação fica ainda mais ridícula. Já tinham quebrado a cara, nesse particular, com Bolsonaro. Ele também seria um racista militante… Até que se descobriu que sua mulher é o que a própria militância chama ‘negra’”, pontua Azevedo.
Em meio à onda de acusações contra Feliciano, um vídeo com pedido de ofertas durante um culto foi usado como forma de ridicularizar o pastor. Na ocasião, um fiel havia colocado seu cartão de débito no meio das ofertas e Marco Feliciano pediu a senha, dizendo que sem ela não adiantaria.
No meio cristão, diversas pessoas ponderaram que embora não concordassem com a prática, aquilo não era motivo de desqualificar Feliciano enquanto deputado. Um dos que argumentaram nesse sentido foi o pastor Rubens Teixeira, que criticou o “tom pejorativo e jocoso” usado pela mídia.
“Como não sou da igreja dele, não tenho nada a ver com o método que ele se utiliza para pedir ofertas. As pessoas têm o direito de fazer o que quiserem com os seus patrimônios, inclusive as daquela igreja. Se o pastor Marco Feliciano e seus membros tivessem vergonha ou achassem que estavam fazendo algo errado ao pedirem e doarem ofertas, eles não o fariam sendo filmados”, ponderou.
Em seu site, o próprio Marco Feliciano posicionou-se sobre o caso através de sua assessoria, e “declarou que apenas estava brincando ao anunciar o nome do irmão Samuel Souza no microfone a fim de devolver o cartão que chegou dentro da salva de ofertas recolhidas na manhã daquele domingo, e poderia ter chegado ali por engano, já que as salvas recolhem somente ofertas em dinheiro”.
A nota continua com um depoimento do proprietário do cartão: “Na ocasião eu não tinha nenhum recurso para ofertar, mas meu desejo era muito grande de colaborar devido à necessidade de nossos missionários e crianças […] Senti vontade de ofertar novamente, porem sem mais recursos disponíveis resolvi fazer um ato profético de consagrar simbolicamente a minha conta corrente, coloquei meu cartão nas salvas de oferta e com fé acreditei que isso abençoaria minhas finanças […]Na época eu nem esperava em casar, nem pretendente tinha (risos), ganhava muito pouco como eletricista. Em um ano minha vida deu uma reviravolta, conheci uma pessoa maravilhosa, nos casamos, tenho uma linda casa toda mobiliada, não pago aluguel e consegui emprego como inspetor de manutenção elétrica”, disse Samuel Souza.
Em meio ao auge da divulgação das acusações, a Rede Fale divulgou um documento manifestando sua opinião contrária a Marco Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM). Em resposta, o pastor Silas Malafaia publicou em seu site uma crítica à postura adotada pelo movimento: “Fico de boca aberta de ver pastores a serviço da ideologia da esquerda que nos odeia, e que defendem todos os temas contrários aos princípios da Palavra de Deus. Com todo respeito, não sei se é inocência ou oportunismo”, disse o líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
Malafaia menciona ainda em seu texto, um dado político da questão: “Durante 16 anos o Partido dos Trabalhadores (PT) presidiu a CDHM. Nesse período, esta comissão foi usada tremendamente para apoiar a causa do ativismo gay. Por motivos inconfessáveis eles não a quiseram mais, e, na partilha política, a comissão ficou com o Partido Social Cristão”.
Silas Malafaia se arriscou ainda a brincar com o visual do pastor Marco Feliciano ao comentar as declarações que serviram de combustível para os protestos: “O Pr. Feliciano fez duas declarações infelizes, mas ele não pode ser julgado como homofóbico ou racista. Primeiro porque nunca bateu ou mandou matar gay, e segundo que ele é de origem negra (mesmo tendo cabelo esticado hahaha), e seu padrasto é negro”, comentou.
Sobre as declarações da apresentadora Xuxa, que o chamou de “monstro”, o pastor Marco Feliciano afirmou através de sua assessoria que irá processá-la: “Já estou com um dossiê pra entregar a polícia federal com dezenas de páginas impressas com ameaças de morte. Me ajudem em oração! E sobre o que disse Xuxa, minha assessoria jurídica prepara o processo. Durmam em paz”.
Pelo lado espiritual, vídeos com profecias sobre problemas que Feliciano enfrentaria em sua caminhada começaram a ser repercutidos nas redes sociais. No primeiro deles, o pastor Luiz Antônio afirma que seu ministério sofreria ataques, e no segundo, afirma que Deus conhece o coração de Feliciano e que sabe o que ele tem passado. Confira:
Em reunião na tarde desta terça-feira, 12 de março, a bancada do PSC na Câmara anunciou que não vai retirar a indicação do Pastor Marco Feliciano à presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. O partido reafirmou o apoio ao deputado.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+