O apóstolo Agenor Duque é uma das figuras mais controversas do meio evangélico brasileiro, e com frequência, vídeos que expõem um certo destempero de sua parte se tornam públicos, motivando críticas. Avesso às opiniões discordantes, o líder neopentecostal tem uma estratégia pronta: censurar.
Em abril deste ano um comunicado interno da Igreja Plenitude do Trono de Deus em formato de vídeo vazou nas redes sociais, mostrando a suspeita de Agenor Duque sobre alguns pastores da denominação, que estariam desviando ofertas, dízimos e doações especiais. No vídeo, ele ameaçava os supostos corruptos: “Tua casa vai cair”.
Nesse episódio, a postura de Agenor Duque não foi diferente, e o escritório de advocacia que presta serviço para a denominação denunciou os vídeos que mostravam o conteúdo das ameaças do autointitulado apóstolo, levando o YouTube e o Daily Motion a banirem os vídeos de suas plataformas.
O Gospel+ recebeu a notificação de ambas as plataformas, e fez contato com os advogados da denominação pedindo a retratação da remoção do vídeo, já que o material havia se tornado de conhecimento público nas redes sociais e tratava-se de informação. Na ocasião, a direção do portal reiterou aos advogados que se a postura de censura fosse mantida, o episódio, inevitavelmente, seria reportado aos leitores.
Há 11 anos no ar, o Gospel+ sempre reportou os abusos, sem distinção de denominação, hierarquia eclesiástica, posição política ou social. A postura independente cobra caro, mas faz parte da essência deste veículo, compromissado com o princípio de “servir ao Pai, servindo Seus filhos”. Esse princípio é o que garante que, mensalmente, mais de oito milhões de pessoas sejam alcançadas, segundo o Google.
Agenor Duque não recuou da postura de censura, como era de se esperar, já que foi a mesma adotada com a maioria dos canais em plataformas de streaming que expuseram sua maldição contra pessoas e fiéis que o contrariaram. Em abril de 2015, aos berros, disse que “a ira do Senhor” iria se impor sobre seus críticos.
O líder neopentecostal voltou a vociferar maldições um ano depois, por não aceitar que uma pessoa questionasse sua mensagem, afirmando que devia ser respeitado por ser “profeta de Deus”. Na sequência, ele “ordena” uma paralisia: “Nunca mais vai andar. Até você voltar aqui e respeitar profeta. Se eu sou homem de Deus você está amaldiçoado! Desafio”, disse.
Nessa ocasião, o contestador continuou enfrentando Duque, de pé, e o líder da Plenitude do Trono de Deus, vendo que o homem não havia ficado paralisado, sugere que ele seria um enviado “do diabo” e pede que deixe o templo: “Não quer? Vai embora daqui, rapaz”, bradou. Assista aqui.
Saco sem fundo
Esses rompantes de destempero do autointitulado apóstolo caminham pari passu com o apetite descomunal por arrecadação. No vídeo censurado mais recentemente, Agenor orienta seus pastores a não desprezarem as ofertas baixas, pois com o cenário de crise econômica, muitas pessoas não poderiam doar valores altos.
Organizador do Congresso Fogo de Avivamento para o Brasil, Duque está habituado a extrair o máximo que pode de seus fiéis. Em fevereiro deste ano, iniciou uma campanha de arrecadação para a realização da nona edição do evento, usando a televisão para pedir que mil pessoas doassem, cada uma, R$ 1.000,00, o que totalizaria R$ 1 milhão em doações para um evento com cobrança de ingressos.
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Em anos anteriores, a estratégia de Duque foi vender entradas para uma área VIP dentro do evento, a mil reais cada. Além de um camarote, o ingresso VIP dava direito a uma oração especial. A notícia foi amplamente criticada nas redes sociais por fiéis de outras denominações, o que gerou, novamente, grande polêmica envolvendo-o o insaciável religioso.
Poucos meses depois, em maio, Duque voltou a pedir valores estratosféricos: R$ 3 milhões para sustentar seus programas na TV, e repetiu a estratégia: queria que três mil fiéis doassem, mensalmente, mil reais, por tempo indeterminado.
Teatro
A sanha arrecadatória de Agenor Duque e sua contrariedade com discordâncias, com pregações que enfatizam o Velho Testamento a partir de uma visão bastante questionável teologicamente, aliada ao fato da prática de rituais – como a “unção” ao atacado de sal durante um culto -, chamou a atenção da revista Época em dezembro de 2015.
Uma reportagem da revista o descrevia como alguém com “forte vocação teatral” e garantidor do “impossível”, apesar de ter listado apenas parte de seus arroubos. “Duque abocanha cada vez mais fiéis e começa a incomodar as igrejas concorrentes. Além das usuais curas de doenças e vícios, Duque promete apagar o passado da mente dos fiéis”, sublinharam os jornalistas Aline Ribeiro e Harumi Visconti à época.
O figurino de Duque – que passou a se vestir de “saco” como símbolo de humildade em algumas ocasiões, a Época observou que o religioso usa esse uniforme como “uma espécie de abadá para uma encenação de pobreza”, pois sua vida gozava de muitos confortos que só o dinheiro poderia oferecer.
Como os adeptos do funk ostentação, fora do palco ele se enfeita com cordões, anéis e relógios dourados, bonés e tênis de marcas como Nike e Hugo Boss e adora exibir-se no Instagram. Dirige um Porsche e um BMW. Já se exibiu em um vídeo com uma Ferrari – após críticas de internautas, recuou e disse que o carro era de um ‘amigo’, o pastor Arthur Willian Van Helfteren, da Igreja Universal do Reino de Deus. Sempre que viaja, Duque evita apertar o corpanzil nas poltronas da aviação comercial; prefere o conforto de um bimotor Cessna Citation. De acordo com os registros da Agência Nacional de Aviação Civil, a aeronave pertence à Cimeeli Comércio e Indústria, uma empresa sem rastro. O telefone atribuído à Cimeeli é residencial e seus sócios não foram localizados.
-Época
Luta
A censura e a intimidação – através de dezenas de notificações feitas, ao longo dos anos, com a pompa e circunstância que cercam escritórios de advocacia – são comuns nos bastidores do meio evangélico brasileiro, e acompanham o trabalho diário do Gospel+. Não são poucos os “agenores” contrariados com a exposição dos excessos e exageros.
O compromisso com a isenção se mantém. Criticados, quando erram, esses mesmos líderes recebem tratamento justo quando são expostos a injustiças. Princípio de fé, e de jornalismo. Pastores, bispos e “apóstolos” diversos já estamparam manchetes deste portal nas duas circunstâncias. E assim continuará sendo, até onde Deus permitir.